Frapé Barro de Bisalhães

Sempre admirei as peças de barro de Bisalhães: Barro negro, um tanto ou quanto tosco, poroso. Peças lindas na sua simplicidade. Preciosas e complexas por todo o trabalho duro, sabedoria e técnica que requerem.

Posso contar-vos a história que já conhecem, uma história tantas vezes contada:

A história da arte popular e dos seus autores, que ficam para trás nesta marcha da cultura massificada, da tecnologia, do avanço e da modernidade. Podemos falar sobre a importância da arte popular, que integra as artes e os ofícios e de como tudo isto é de extrema importância para a diferenciação cultural num mundo cada vez mais globalizado e uniformizado. Podemos falar da urgência em manter e acentuar as especificidades regionais.
Posso contar que eram muitos os oleiros que faziam desta arte a sua vida e sustento. Antes, pelo menos desde o século XVI, eram muitos, talvez centenas, hoje são cerca de 6 os que se dedicam à produção destes artefactos (do latim arte factu-, «feito com arte»)
Podemos falar sobre o valor de tudo isto, mas o que importa é a acção.

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Histórias no Pote

by Michael W.

Photography Inga Freitas Photography

Numa manhã platinada, de brilhos brancos e opacos, partimos. A memória pregava-nos partidas. O Douro, na sua peculiaridade e diversidade, é todo igual. Uma curva não é diferente de curva seguinte, e um socalco não é diferente do socalco acima. A aldeias em nada se distinguem entre si nas suas dissonâncias coloridas, em contraste com os tons pardacentos que acentuam a monotonia do relevo. Enfim, é apenas natural existir alguma tristeza na honestidade das coisas.
“Um pouco mais à frente”, olhei pela janela e vi o longo dorso do Marão, e essa seria a única referência memorável naquele serpentear melancólico. Por fim, lá reencontrámos a entrada da Quinta do Estremadouro.
O vento soprava leve, mas num prenúncio outonal. A fachada da casa mantinha-se muda, de portas e janelas fechadas. Mais uma vez, a memória brincava. A casa parecia-me mais pequena e mais simples, e as árvores maiores e mais velhas.

Quinta Aneto Jantar

Fomos recebidos pela Sílvia, acompanhada dos filhos, “podem ir descendo que já lá vou ter”, enquanto se dirigia, atarefada, para uma das salas da casa. Descemos as escadas, toscas e estreitas, de corrimão macio, desgastado pelo gesto, em direcção à cozinha, onde encontrámos Francisco Montenegro. “Podem por as coisas aí em cima”, enquanto nos cumprimentávamos. Um cheiro intenso a lenha invadia a cozinha, vindo de um anexo, onde já se preparavam os potes. Seguiram-se os arranjos florais, a disposição da mesa no andar de cima, enquanto outros traziam batatas e cebolas da horta, folhas de videira da vinha, cortavam o pão e preparavam o queijo.

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Verão em Vila Real: entre o Douro e o Alvão

by Inga F. Photography: Inga Freitas Photography

Que seca! Dias chatos, longe da praia. Verão quer praia. Mas nós, por aqui, queremos ir dar um mergulho nas cascatas de água transparente e fresquinha. Queremos dar um passeio até lá, passar pela floresta, pedras e pedregulhos. Sentir o cheiro da terra seca e da hortelã pertinho dos riachos.  Querido Alvão! AlvãoAlvãoAlvãoAlvão Continuar a ler

Próximo encontro Next gathering: Comida no Pote Transmontano

Tinta Barroca and Aneto Wines eng

Há uns tempos, em conversa, alguém falou-nos em “comida no pote transmontano”. Dizem que tem um sabor especial! Por isso, marcámos um jantar para dia 25 de Julho (Sábado) na Quinta do Estremadouro, na companhia do enólogo Francisco Montenegro,da Aneto Wines, que irá lançar o seu novo Aneto Rosé 2014.

Reservas através do email atintabarroca@gmail.com

Contactos/Informações: 00351 964478977 (Inga Freitas); 00351 916653442 (Leila Freitas)

Temos 15 lugares disponíveis.

Local:
Quinta do Estremadouro
5100-663 Penajoia

Douro, Portugal

GPS:
latitude : 41º 9´0.81´´ N
longitude : 7º 52´1.33 W

Some time ago, someone mencioned “comida no pote transmontano”. It’s home made food, cooked in an iron pot — the “pote transmontano” —, giving it a special flavour.
That’s why we’re organizing a dinner for the 25th July (saturday) in Quinta do Estremadouro, in the company of the Aneto Wines‘ oenologist and producer, Francisco Montenegro, who’s going to release his new wine Aneto Rosé 2014.

Reservations: atintabarroca@gmail.com
Contact/Information: 00351 964478977 (Inga) 

We have 15 available seats.

Place:
Quinta do Estremadouro
5100-663 Penajoia
Douro, Portugal

GPS:
lat: 41º 9′ 0.81” N
long: 7º 52′ 1.33” W

Casa Jorge, o Malcriado

by Inga F
Mal Criado

Fotografia: Inga Freitas Photography

O Malcriado faz as melhores pataniscas do MUNDO. (sim, eu sei que pataniscas é só em Portugal, mas é mais uma razão para dizer que são as melhores do MUNDO).

Não me venham com a conversa de que as vossas avós é que as sabiam fazê-las. Ninguém cozinha como a tua avó — é um facto! Mas a vossa avó é a vossa avó e o Malcriado é o Malcriado. E antes de porem as vossas mãozinhas no fogo pelas vossas queridas avós (eu também tenho umas avós muito fofinhas e que cozinham como ninguém) passem pelo restaurante Malcriado.

Na verdade o restaurante chama-se Casa Jorge. Fica em Mateus, Vila Real. Quem for visitar a Casa de Mateus  (mais conhecida como Palácio de Mateus) e não passar por lá, estará a cometer um grande erro. Sim, os jardins da Casa de Mateus são lindíssimos, mas sempre que lá vou, enquanto passeio pelo túnel de cedros e penso naquelas pataniscas tão bem confeccionadas fico com água na boca. Falam-me do Nicolau Nasoni, mas eu já estou a pensar em pedir as pataniscas com batata frita às rodelas temperadas com vinagre (uma sugestão minha). Uma salada fresquinha a acompanhar, com tomate caseiro; o vinho branco da casa que vem sempre à temperatura ideal.  Falam-me do Morgado de Mateus e os seus feitos no Brasil e como arrecadou uma grande fortuna, mas eu questiono-me: quem será a pessoa que cozinha aquelas delícias? De certeza que é uma senhora, e esta senhora é quem deveria fazer fortunas por ter a arte de saber cozinhar: gordos pedaços de bacalhau no ponto, nem salgado nem insosso, sempre acabados de fazer, quentinhos!

A Casa Jorge tem mais iguarias: dizem que o salpicão em vinha d’alhos é excelente. A mousse de chocolate surpreendeu-me!

Tem diárias, mas está sempre aberto à hora do lanche. A última vez que lá fui foi num preguiçoso domingo.

Este espaço é um restaurante, mas gosto mais de pensar que estou numa tasquinha bem cuidada. Parece que volto aos anos 90, quando nos perdíamos por uma vila qualquer aqui no norte.

Coordenadas: Rua Raia 5000 285 VILA REAL
Distrito: Vila Real
Concelho: Vila Real
Freguesia: Mateus
Telefone: 259322879

Santa Fartura!

Estamos em época de Santos.

Para o meu irmão é a época da Santa Fartura, Santo Churro, Santo Algodão Doce!

Photography Inga F.

D. Sebastião: dá cá um balão para eu brincar!

santos-populares

eCollage by Inga F.

by Inga F.

Na noite de Santo António fui dar uma volta pela avenida e ver as marchas populares com o meu irmão.

Ele aborreceu-se em dois segundos e quis vir embora. Tinha trazido um skate e achou mais interessante ficar a equilibrar-se naquela tábua com rodas durante uma hora, mesmo que isso lhe custasse uns quantos arranhões. Eu entendi e decidi não o convencer a ficar e “ver mais um bocadinho”. Mas antes de irmos, reparei nas caras das pessoas que compunham o grupo que marchava — eram na sua maioria jovens. Jovens que pareciam tristes, ou inibidos. Sei que não posso generalizar, e que talvez aquele grupo que passava ali, naquele preciso momento, fosse o único que se estivesse a sentir assim. Depois reparei nas restantes pessoas que assistiam — ninguém acompanhava as canções ou batia palmas, pior que isso: não havia emoção e sorrisos alegres. Aquela marcha de cor e brilho era mais uma coisa que se atravessava aos olhos daquela gente. Aquela gente também era eu.

Pensei: Os portugueses andam tristes! Cansados!

Hoje é noite de São João e estou à espera de encontrar este menino que a esta hora já deveria ser homem. Que surja o D. Sebastião no meio do nevoeiro da sardinhada! Pelo menos esta noite! Bom São João!

Dos Tolos e dos Loucos

…para ouvir: Breathe – Pink Floyd

by Michael W.

Thomas Mann escrevia em A Montanha Mágica sobre a relatividade do tempo: “O vazio e a monotonia alargam por vezes o instante ou a hora e tornam-nos “aborrecidos”; porém, as grandes quantidades de tempo são por elas abreviadas e aceleradas, a ponto de se tornarem um quase nada”. A aceleração que a passagem do tempo adquire através da monotonia torna-se vertiginosa e, em retrospectiva, assustadora, um salto de olhos vendados para um abismo que se rasgou por baixo dos nossos pés. Continuar a ler

“Diz-me o que comes…”

Camilo & Forster

lustração: Inga F.

by Michael W.

Em O Vinho do Porto: Processo d’uma Bestialidade Ingleza *, Sinval explicava a Camillo que “há uma só distinção que extrema o homem de todos os outros animais (…) A mentira. O homem é o único animal que mente”.

Na pena de Camillo, o famoso Barão de Forrester, num infame panfleto sobre a produção do vinho do Porto, e que provocou um “abalo intestinal no mercado de Londres”, acusa os lavradores Continuar a ler

Homens dentro de garrafas

by Manuela F.

Lembro-me de num jantar, num qualquer restaurante aqui no vilarejo, ter visto uma sequência de serigrafias alusivas ao trabalho árduo no Douro numa altura em que pouco ou nada se falava desta região, durante décadas esquecida: Esboços das vinhas, cacos, garrafas que rolavam pelas encostas, garrafas estas que no seu interior ao invés de vinho, continham homens carcomidos, desgastados e embrutecidos, com rostos sulcados de rugas. Tudo isto vi numa altura em que o Douro ainda não era Património Mundial da Humanidade e nas bancas de jornais não existiam revistas sobre vinhos, dessas que hoje são publicadas aos magotes, em que rios de tinta são gastos a falar do brilhantismo deste e daquele produtor, deste e daquele enólogo, de castas, da acidez dos vinhos, dos taninos e de restaurantes onde se associam néctares à Nouvelle Cuisine. Exaltam-se os chefs como se de estrelas de Hollywood se tratassem.

Obra do acaso, poucos anos mais tarde, fui trabalhar para um local onde se produz vinho desde o séc. XVII. Uvas desta e de outras quintas do Douro, são ainda hoje ali vinificadas. Misturam-se saberes ancestrais com novas técnicas de produção. Daí vermos os velhos lagares de granito ao lado de cubas de inox. Foi aqui que tomei contacto com o vinho e fiz a minha ligação às serigrafias que um dia vi num qualquer restaurante.

 por Nuno Castelo

Homens Garrafa III  de Nuno Castelo